Temos visto, já há algum tempo, diversos testes e novas implementações no produto de busca mais usado da internet: o Google. São mudanças e aprimoramentos no algoritmo responsável por entregar os melhores resultados, mas também são integrações estratégicas e auto-referências que nos fazem questionar até onde o Google vai na consolidação da sua hegemonia frente aos demais buscadores.
Alguns aspectos recentes (e outros nem tanto) têm provocado uma particular curiosidade em mim, sobretudo no que diz respeito aos efeitos nas páginas Web mais populares do planeta: as páginas de resultados de busca (também abreviadas como SERPs). Além disso, tenho pensado muito sobre o Google como empresa e o impacto do seu real modelo de negócio (publicidade) no mundo hoje. Abaixo destaco alguns desses pontos.
Knol x Wikipedia
O Google anunciou na semana passada o projeto do Knols, sua resposta para a Wikipedia. Trata-se de uma plataforma de compartilhamento de conhecimento (daí o nome “knol”, do inglês “knowledge”) através do qual os usuários contribuem com assuntos do seu expertise e são capazes de editar e adicionar conteúdo, postar perguntas, classificar knols, entre outras atividades baseadas em comunidade.
Até aí, tudo bem. Sabemos dos esforços do Google como facilitador de acesso às informações. Agora, veja este trecho do comunicado oficial:
“At the discretion of the author, a knol may include ads. If an author chooses to include ads, Google will provide the author with substantial revenue share from the proceeds of those ads.”
Não poderia ser diferente. Eis mais uma grande fonte de receita para a gigante de Mountain View. Percebem? Mais conteúdo gerado por usuários significa mais inventário para uma publicidade contextual. Bingo! Então você me pergunta: mas, Miguel, o que isso tem a ver com páginas de resultados de busca? E eu respondo: tudo!
Veja, por exemplo, uma busca por “santos dumont” ou “albert einstein“. Achou tendencioso? Então tente a palavra-chave mais buscada do ano: “iphone“. Notou alguma semelhança nos resultados da busca orgânica? Mesmo? Dê uma olhada nos primeiros sites listados. Você vai, provavelmente, ver a Wikipedia no topo. E este é o meu ponto.
Com o Knols, o Google não apenas estará atacando o privilegiado posicionamento da Wikipedia em seus resultados, como estará promovendo o seu “próprio” conteúdo, ou seja, o conteúdo que ele mesmo monetiza para si. Não que não seja relevante, bem pelo contrário. Eu queria justamente apontar os dois lados da moeda, afinal, o Google pode ter fama de bom samaritano, mas não é bobo 😉
Orkut nos resultados do Google
O blog Undergoogle destacou nos últimos dias a inclusão de informações de perfil do Orkut nas buscas do Google. Uma nova opção surgiu nas configurações da rede social permitindo ao usuário disponibilizar ou não as suas informações pessoais no buscador.
Os perfis aparecem nos resultados de busca (para quem está logado no Orkut) na forma de uma OneBox, uma caixa com um resumo do usuário que inclui nome, foto e localidade. Geralmente, a OneBox aparece no topo ou no final da página de resultados. Trata-se ainda de uma fase de testes e, portanto, limitada apenas a alguns usuários.
Blogs e notícias na primeira página
O Google comprou o Blogger, sistema de gerenciamento de blogs que compete com o WordPress (e, ironicamente, apresenta um código bem inferior para SEO). Também incorporou blogs em sua busca universal. E o Googlebot, por default, tende a passar mais vezes em sites atualizados de maneira mais freqüente, como… blogs! 🙂
Da mesma forma, a busca universal do Google também passou a incluir notícias do Google News, cujo conteúdo é adicionado pelos próprios provedores de notícias e aprovado editorialmente pelo Google (nada de robô aí). A emblemática CNN e o grupo Time Warner como um todo têm parceria com a empresa de Mountain View. A tal parceria envolveu, há dois anos, um negócio no qual o Google aceitou desembolsar 1 bilhão de dólares por 5% de participação na AOL, empresa integrante do conglomerado de mídia. Mas não foi tudo. Concordou em oferecer um crédito de 300 milhões de dólares em links patrocinados por um período de 5 anos.
Ah, eu mencionei que o The New York Times é site parceiro da rede de conteúdo do Google (AdSense)?
DoubleClick e a nova cruzada do Google
Agora é oficial. A Federal Trade Commission (FTC) finalmente aprovou a fusão da DoubleClick com o Google sob o argumento de que as duas empresas são detentoras de modelos de negócio “complementares”. Faz sentido se considerarmos as demais aquisições realizadas em 2007: Yahoo! comprando a Right Media; AOL adquirindo a ADTECH AG e a TACODA; WPP Group queimando verdinhas pela 24/7 Real Media e a Microsoft desembolsando 6 bilhões de dólares pela aQuantive, além da compra da AdECN Inc. Nada mais justo, certo?
Olhando para trás neste ano de 2007, é muito difícil de visualizar o Google simplesmente “organizando as informações do mundo e tornando-as universalmente acessíveis e úteis”. Talvez Mountain View ainda mantenha essa missão. Agora, não se pode falar o mesmo do resto do mundo, não é verdade? 😉
Que venha o Ano Novo!